MUSEION
Ela jaz.
Eles lacrimejam
atrás,
austeros
jeitos, trejeitos,
olhares
sinceros.
Outros
escavam,
à frente,
numa comoção
mecânica,
sem ares.
Está tanta gente.
Flores,
flores
brancas e azuis,
ervas perfumadas
numa miríade botânica
de intensos odores,
veladas.
Sobre o caixão
o marido,
num pranto dobrado,
doloroso,
chora
a desdita
sem consolo,
a vida maldita.
A cruz.
Os pavios
tremem.
Nas velas
estremece a luz.
A vila inteira
presente,
(que emoção
de gente,
rica e indigente).
Ao fundo
soam
lamúrias de
carpideira.
Veio
o padre,
pela Junta,
o presidente.
E ela jaz
em silêncio
ausente
só
entre o incenso
e a cal.
Ainda encanta
pura
branca
(até sensual).
Espanta,
sua formosura
sem bem nem mal,
na sala escura.
Estará adormecida,
como Bela?
Sim,
é capaz,
não tem idade,
a musa da tela
(que vejo)
esvaída
num último
suspiro
de necessidade,
em paz.
Ele dá-lhe um beijo.
© Maria Clara C’Ovo, 2015.
Matisse with pigeons by Cartier-Bresson. |
Sem comentários:
Enviar um comentário