sexta-feira, 20 de novembro de 2015

PEDRA DO AR

Acendo-me na paixão,
inflamada vivo nela,
montada em meteoros,
cadente como uma estrela.
São pequenos pontos luz,
sinais, Celeste, fogo criativo,
sem eles, apago-me, não vivo.
Viva o fogo que me conduz,
essas pontuais fogueiras
onde acendo meu rastilho:
num bailado andaluz,
no samba das brasileiras,
nas águas que dão à luz
ondas, alternativas, um filho.

© Maria Clara C'Ovo, 2015

Ilustração de Guilherme Ghira

terça-feira, 17 de novembro de 2015

XADREZ

Tem uma fisga
que me empreste?
Tenho uma bandeira,
pode ser branca?
Basta-me um elástico
para as forquilhas.
Troco por um ramo de oliveira
- não apoio guerrilhas -
ou por um pombo
que voa por cá.
Também me serviria uma funda.
Arranjo-lhe um crachá,
‘nuclear não obrigado’,
- não suporto barafunda -,
ou um ‘sorri sempre’
(desculpe, ser pasta Couto).
Pronto, resta-me a unha
ou, como sugere, o dente
(brilhante, d’ouro).
Sim, a força que
anima toda a gente.

Imagem: pintura de Guilherme Ghira.
© Maria Clara C’Ovo.



sábado, 14 de novembro de 2015

LITEIRA

Quando passei pelo carrossel,
naquela sexta-feira treze,
sem ti,
e olhei o cavalo
vermelho,
quase não resisti,
a sentar-me no corcel
e cavalgar,
cavalgar,
cavalgar
sem fim,
mas de repente
percebi
que se das rédeas puxasse
a dor
e  moderasse o passo,
límpido,
chegaria mais perto de ti,
meu amor.
   

©  Maria Clara C’Ovo.


quinta-feira, 12 de novembro de 2015

BEIJOS

Apenas assim
resulta para mim,
quando me sinto, pressinto
e não me bato com o cinto,
me moldo e esculpo com habilidade,
ditada pela falta, pela necessidade,
quando me modero para obter o que quero,
quando penteio o cabelo para que fique belo,
quando discuto com o desejo,
e nego um determinado beijo,
e me encho de felicidade
e embelezo as ruas, a cidade,
porque só quero e amo aquele,
(e o mesmo se passa com ele)
a quem sou fiel.

© Maria Clara C’Ovo, 2015.




segunda-feira, 9 de novembro de 2015

TO FERNANDO

- Ando num desassossego
- Atenção ao plágio,
esse é do Pessoa!
-Ou então numa azáfama.
- Isso são bichos carpinteiros.
- Ando numa luta permanente,
- Boa, contra quem?
- Sonho que remo contra a corrente nos esteiros.
- Contra a corrente?
- Sim, a minha mente
e é tanta gente!


© Maria Clara C’Ovo, 2015.