quarta-feira, 30 de setembro de 2015

VAGANTES

Ó vida cigana
que me levas rodando,
em passos,
sobre essa bola de fogo.
(que calor,
abana, abana).

Sempre essa itinerância
de estendal atrás
em caravana
(sem secador),
pela areia, serpenteando
em acampamentos
movediços
entre catos
que picam como ouriços,

rolamos com tempo
em lamentos sapateados
à porta da tenda
a roupa estendida ao ar,
ao relento,
saias rodopiam,
bailando, a dar a dar,
ao som de Paco
que toca dedilhado

Ouvem-se histórias de califas
de gente que voa em alcatifas
que Paco vende, por atacado,
e me estende na esperança
de acender essa fogueira
que nos aquece e enrola
em palmas
mais uma dança
a vida inteira.

© Maria Clara C’Ovo, 2015.


terça-feira, 29 de setembro de 2015

TO PETER

É tão penoso crescer.
Ainda hoje estou para saber
como é que aqui vim ter?
-Por favor, está-se mesmo a ver.
Foi tudo um caso de amor,
o que te fez correr.

© Maria Clara C’Ovo, 2015.




segunda-feira, 28 de setembro de 2015

AN ARCHONS

Hoje está nevoeiro,
mas eu vejo tudo inteiro.
Vejo totalidades.

Hoje não estou para metades.
É preto no branco,
pão, pão, queijo, queijo,
sem tonalidades.

Cinzas? Só nas floreiras,
onde vejo rosas vermelhas,
inteiras.

Hoje estou com Stalin
Estou, estou,
ou todo ou nada.
O Vissarionovitch teria lá suas razões
‘Imperscruta-bilis’
Estou
(em agonia).
Hoje estou obstinada.

Estou com D. Sebastião,
insondável no nevoeiro,
e com toda a certeza e razão
(indignação!):
um homem quer-se inteiro.

Ou talvez com Platão
andrógina
com vontade,
na ânsia,
da nossa totalidade.

Sim, hoje vou,
vou levar-te para o quarto
para que seja como no teatro.

Imagem in: Jan Sochor Photoblog

© Maria Clara C’Ovo, 2015.

Imagem in: Jan Sochor Photoblog

domingo, 27 de setembro de 2015

BOLETIM

Leva-me vento,
em redemoinhos,
nas asas dos moinhos.

São correntes de ar,
portas a abrir, portas a fechar
(constipações).

O rapaz da meteorologia
diz que não,
mostra-me as previsões,
que a bonança vem amainar o trovão,
mas o sorriso de suas predições
não acalma meu alvoroço.

Voam planos, voam folhas
no Outono,
voa o moço no torvelim.

Porque me fizeram assim,
um ciclone
que varre caminhos,
esta voragem de carinhos
sem cicerone?

Para onde vou,
vou sem tempo,
leva-me esse movimento.

© Maria Clara C’Ovo, 2015.

 












sábado, 26 de setembro de 2015

MULTIDÃO

Como posso amar-te,
Quando meus passos se entrelaçam em tantos outros?

Da minha meada perdeu-se o fio na multidão
Duvido agora alguma vez tê-lo encontrado

Desse mim resta um desejo impreciso, incontrolado,
A força que ao escrever-te conduz a mão.

© Maria Clara C’Ovo, 2015.