I
Ter de ser ou ser de ter, eis a questão?
Agitas-me com as tuas utopias.
Porque me enches com perguntas vazias,
se nos vácuos dias mascamos pão?
És, então, um ser de ter quotidiano?
Terá de ser essa, sim, a nossa arte.
Pensas que, com odes espirituais,
escapas à comédia, à
la carte?
II
Ter de ser um comensal, é o menu?
Quando te tornas e multiplicas, forças.
Por um trago, trincas, devoras a cru!
Irritas-te. Em fúria. Partes louças.
Engoles o teu pão, diabólica,
amassada, triturada pela vida.
Cais viciada, corrompida, em ciclo,
donde, labiríntica, não tens saída.
Açambarcas fixação e avidez.
E de tão tamanha, és tu altivez,
de sôfrega, vives nessa compulsão,
num entorpecer triste de solidão!
III
Põe-me antes a tua mesa sagrada,
Estende a louça, a toalha bordada!
Entende a vida, milagre de pão.
E saboreemo-la em comunhão.
Para o banquete chama um amigo,
Compreende este ritual antigo,
esta comédia e festa de ser,
providencial a quem der e vier.
Maria Clara C’Ovo.
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