quarta-feira, 9 de setembro de 2015

LEVANTE

Corro esbaforida
Rumo a Levante
Ando, pedalo, remo 
Nado contra a maré 
Luto contra a corrente
Voo no meu drone até
Levo a cama, o fogão e a estante,
O oleado também
Tudo na capota
Do meu drone
Cruzo-me com tanta gente
Somos gente de bem
Acenamos
Dizemos adeus
Falamos pelo telefone
São rostos familiares,
Crentes e ateus
Aos milhares
Trocamos sorrisos, 
Beijos, 
Abraços, 
Apertos de mão
Bebidas quentes
Trocamos até de região
De ares
Convincentes
Trocamos de galhardetes 
De conselhos
Sobre o trabalho
A melhor forma de sermos ricos 
Cedo depois um agasalho
Uns abanicos
Mostro—lhes o meu drone 
Sim, podem dar uma voltinha.
Contam que lá na terra havia avionetas
No fundo, procuramos todos uma casinha.
Compro-lhes umas canetas 
E volto à corrida
Eu, a mobília e os tapetes
Que assento sobre a terra 
À chegada.
Mirando as ruínas 
Assombrada por
Tanta riqueza
Nas esquinas
Da guerra
Onde encosto o meu drone
Com cuidado, 
Numa arqueologia perdida,
Ou achada,
(conforme a perspetiva).
Vejo tantas saídas
Por entre restos, vestígios, 
Um paiol,
Peças caídas
Esburacadas
Destruídas
Pelo meu drone
Estico a esteira ao sol.


Imagem in: Kill Anything That Moves, Adbusters, 2013

© Maria Clara C’Ovo

Sem comentários:

Enviar um comentário