segunda-feira, 20 de julho de 2015

CABAÇA

Mãos enterradas com prazer no barro.
Gosta de o tocar, de o sentir.
De o moldar e de o extrair
De barreiras, desse local bizarro,
Atraída por aquele pó telúrico,
Dá-lhe forma, um rosto e figura,
De olhos côncavos, de queixo cúbico,
Sente vontade de o esculpir,
De lhe sentir o perfil, a finura.
De se envolver nele, de se cuidar,
De se soltar e de se deixar ir
No torno, no pino, de modelar.
Soprar-lhe pelo nariz seus segredos,
De o amolecer e inventar,
De o regar com o vapor dos dedos,
Gosta de o imaginar sem medos.
De perder o pé naquela argila.
Soterrar-se, quase perder o ar.
Asfixiada e tão esvaída,
Reencontrar o norte e girar.


Maria Clara C’Ovo.

Sem comentários:

Enviar um comentário