I
Galgara uma vida
estafada.
Derreada entre sacos
e embrulhos.
Embalara num colo
calejado.
Entoando baladas
e murmúrios.
Na troca de
festas, beijos roubados.
De amores terçados
ao limite.
Em barrigas de filhos
partejados.
Mimara merendas de
apetite.
II
Chapinhara em molhados
sorrisos.
Ensinara as letras
paciente.
Ordenara caos, arrumara
vidas.
Polidas num vai-vem
indiferente,
Carimbadas p’lo
mecânico ser.
De secções e processos
arquivados.
De uma família a
correr.
Contra relógios congestionados.
III
Lia crises
estampadas nas gordas,
Tensões dum
marido desempregado.
Enfrentava
cabisbaixa as ordens.
Dum pai colérico
e agastado.
Como abreviaria o
tempo?
Com salário
magro na panela.
Sem horas,
energias, nem delongas.
Desabafos fugiam
à janela.
IV
Com olhares perdidos
na areia.
Da estrada estreita
e grotesca.
Destinada de
volta à aldeia.
Dias e noites passavam
sem pressa.
Sem metais para liquidar
a renda.
Tirara o marido
da taberna.
Perdera a guerra
e a merenda.
Voltara triste à
casa materna.
V
Carimbos trocados
pela enxada.
Largara as
correntes e relógios.
Olhava o sol, ouvia
os galos.
Tinha pão, frutas
frescas e regalos.
Vizinhos de ar
puro e solidários.
Cuidava da
horta, da capoeira.
Ao ritmo de
diversos calendários.
Vivia a terra doutra
maneira.
VI
Com as trocas animava
as vendas.
Em cestas
decoradas pelos filhos.
Nas feiras, nos
mercados e nas tendas.
Carregadas e
plenas pelos trilhos.
Com malhas,
rendas, tecidas fazendas.
Madeiras do José
e alguns vimes.
Pelo ocaso,
caminhavam juntos,
Pequenas sendas,
atalhos sublimes.
VII
Ao serão abrasavam
leite quente.
Bebido pelos corados
petizes.
Para os pais um trago
d’aguardente.
Adormeciam quentes
e felizes.
Maria da Clara
C’Ovo.
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